domingo, setembro 17, 2006

Rua da Saudade

A rua é em pedra, as paredes caiadas do tempo...
As janelas perdem luz, cor, brilho, vão morrendo lentamente num renascer nocturno...
É escuro e as luzes da velha vila parecem afogar tudo o que parece ressaltar de um rio...
Olho para os meus pés e pergunto-me se não estarão cansados de me suportar...
Olho para as minhas mãos e penso quantas vezes não são castigadas por uma caneta...
Olho para dentro e o pouco que vejo parece insuficiente para continuar a subir...
Será que do outro lado daquela rua de saudade existe uma saída iluminada?
Não sei..mas tenho pressa..Anoiteceu e não há estrelas...
Caminho na multidão mas sempre com a sensação que vou sozinha...
Paro de pensar...Olho para o relógio e adianto-o uma hora...
Ora porquê?Porque privo-me de 60 minutos de sofrimento...Ou de felicidade?
Vou andando...os pés arrastam-se num choro sorridente...
Como quem anda por andar...como quem dá passos sem pensar...
Nego pensamentos para não me sentir presa a nada...
Ainda sei voar...ainda quero voar...quero ser capaz de o fazer amanhã porque hoje estou cansada...
E as pedras choram...as luzes gritam a medo...e eu paro de pensar e corro...Volto para trás...
Não vou continuar a cansar os pés e as mãos numa rua de saudade, envelhecida pelo desgaste de se ser vila...Vou parar...acertar o relógio e correr o risco de ver o tempo passar por mim...
Vou estagnar...tratar as minhas asas...guardar a velha rua na minha memória e esperar que alguém um dia consiga chegar ao topo da rua a meio da noite...
Afinal de que te vale saber para onde vais se não sabes se consegues lá chegar? Tentei sim é verdade...não consegui? não mas aprendi que toda a subida ingreme nos tira o folego de vez em quando e nos faz arriscar tudo até ao limite de se sentir feliz...
E é tarde...é tarde nesta rua da saudade...
Pandora

3 comentários:

ZGANDULO disse...

"Vou estagnar...tratar as minhas asas...guardar a velha rua na minha memória e esperar que alguém um dia consiga chegar ao topo da rua a meio da noite..."

Pois,pois...

O orgulho por vezes mata, amiga Pandora...
O mundo sem discussões e sem zangas não era o mundo em que aprendemos a viver...

Por vezes até pensámos estar estáveis na vida e então caminhámos no sentido do futuro e nem pensámos naquelas partidas que a vida nos prega...A amargura toma conta de nós quase como um virus, virus esse que teremos combater com uma injecção de realidade e desdobramento do problema em questão...

Quando se ama um ser durante muito tempo e "esse" nos fere, aí nós sentimos ódio e raiva não a "esse" mas a nós mesmos...

Só o tempo cura as feridas instãntaniamente... Pensa no futuro mas com as mãos na realidade.


ZGANDULO

E.A disse...

Bigada pelo comentário...A vida é mesmo isso como a descreves...Altos e baixos, tristezas e alegrias..mas também acho que devemos tentar viver intensamente e procurar a felicidade onde ela possa estar...Acreditar em alguma coisa e não vivê-lo é desonesto como diria o Gandhi...E quando já deste de tudo e não tens mais nada para dar tens que parar e seguir outro caminho...Beijokas

João Ferreira disse...

Vou estagnar... (isso nunca... estagnar nunca! Parar para pensar, sim! Parar para) tratar as minhas asas... (as feridas) guardar a velha rua na minha memória e esperar que alguém um dia consiga chegar ao topo da rua a meio da noite... (não esperes... vai tu... procura tu... tenta tu... tu consegues...).
Afinal de que te vale saber para onde vais se não sabes se consegues lá chegar? (Será que o importante é saber se vais chegar? Para o peregrino é mais importante chegar ou a caminhada?) Tentei sim é verdade...não consegui? não mas aprendi que toda a subida ingreme nos tira o folego de vez em quando e nos faz arriscar tudo até ao limite de se sentir feliz... (Não acredito nesses limites)
E é tarde...é tarde nesta rua da saudade... (Nunca é tarde... nunca é tarde para ser feliz).
E crescer, amadurecer é isto mesmo...
Bjocas