terça-feira, outubro 31, 2006

O principezinho e a flor


"O principezinho, que assistia à instalação de um enorme botão, bem sentiu que sairia dali uma aparição miraculosa; mas a flor não acabava mais de preparar-se, de preparar sua beleza, no seu verde quarto. Escolhia as cores com cuidado. Vestia-se lentamente, ajustava uma a uma sua pétalas. Não queria sair, como os cravos, amarrotada. No radioso esplendor da sua beleza é que ela queria aparecer. Ah! Sim. Era vaidosa. Sua misteriosa toalete, portanto, durara dias e dias. E eis que uma bela manhã, justamente à hora do sol nascer, havia-se, afinal, mostrado. E ela, que se preparava com tanto esmero, disse, bocejando:
- Ah! Eu acabo de despertar... Desculpa... Estou ainda toda despenteada...
O principezinho, então, não pôde conter o seu espanto:
- Como és bonita!
- Não é? Respondeu a flor docemente. Nasci ao mesmo tempo que o sol...
O principezinho percebeu logo que a flor não era modesta. Mas era tão comovente!
- Creio que é hora do almoço, acrescentou ela. Tu poderias cuidar de mim...
E o principezinho, embaraçado, fora buscar um regador com água fresca, e servira à flor. Assim, ela o afligira logo com sua mórbida vaidade. Um dia por exemplo, falando dos seus quatro espinhos, dissera ao pequeno príncipe:
- É que eles podem vir, os tigres, com suas garras!
- Não há tigres no meu planeta, objetara o principezinho. E depois, os tigres não comem erva. Não sou uma erva, respondera a flor suavemente.
- Perdoa-me...
- Não tenho receio dos tigres, mas tenho horror das correntes de ar. Não terias acaso um pára-vento? "Horror das correntes de ar... Não é muito bom para uma planta, notara o principezinho. É bem complicada essa flor..."
- À noite me colocarás sob a redoma. Faz muito frio no teu planeta. Está mal instalado. De onde eu venho...
Mas interrompeu-se de súbito. Viera em forma de semente. Não pudera conhecer nada dos outros mundos. Humilhada por se ter deixado apanhar numa mentira tão tola, tossiu duas ou três vezes, para pôr a culpa no príncipe:
- E o pára-vento?
- Ia buscá-lo. Mas tu me falavas...
Então ela redobrara a tosse para infligir-lhe remorso. Assim o principezinho, apesar da boa vontade do seu amor, logo duvidara dela. Tomara a sério palavras sem importância, e se tornara infeliz.
"Não a devia ter escutado - confessou-me um dia - não se deve nunca escutar as flores. Basta olhá-las, aspirar o perfume. A minha embalsamava o planeta, mas eu não me contentava com isso. A tal história das garras, que tanto me agastara, me devia ter enternecido..."
Confessou-me ainda:
"Não soube compreender coisa alguma! Devia tê-la julgado pelos atos, não pelas palavras. Ela me perfumava, me iluminava... Não devia jamais ter fugido. Devia ter-lhe adivinhado a ternura sob os seus pobres ardis. São tão contraditórias as flores! Mas eu era jovem demais para saber amar." O principezinho arrancou também, não sem um pouco de melancolia, os últimos rebentos de baobá. Ele julgava nunca mais voltar. Mas todos esses trabalhos familiares lhe pareceram, aquela manhã, extremamente doces. E, quando regou pela última vez a flor, e se dispunha a colocá-la sob a redoma, percebeu que estava com vontade de chorar.
- Adeus, disse ele à flor.
Mas a flor não respondeu.
- Adeus, repetiu ele.
A flor tossiu. Mas não era por causa do resfriado.
- Eu fui uma tola, disse por fim. Peço-te perdão. Trata de ser feliz.
A ausência de censuras o surpreendeu. Ficou parado, inteiramente sem jeito, com a redoma no ar. Não podia compreender essa calma doçura.
- É claro que eu te amo, disse-lhe a flor. Foi por minha culpa que não soubeste de nada. Isso não tem importância. Foste tão tolo quanto eu. Trata de ser feliz... Mas pode deixar em paz a redoma. Não preciso mais dela.
- Mas o vento...
- Não estou assim tão resfriada... O ar fresco da noite me fará bem. Eu sou uma flor.
- Mas os bichos...
- É preciso que eu suporte duas ou três larvas se quiser conhecer as borboletas. Dizem que são tão belas! Do contrário, quem virá visitar-me? Tu estarás longe... Quanto aos bichos grandes, não tenho medo deles. Eu tenho as minhas garras.
E ela mostrava ingenuamente seus quatro espinhos. Em seguida acrescentou:
- Não demores assim, que é exasperante. Tu decidiste partir. Vai-te embora!
Pois ela não queria que ele a visse chorar. Era uma flor muito orgulhosa... E voltou, então, à raposa:
- Adeus, disse ele...
- Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.
- O essencial é invisível para os olhos, repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
- Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante.
- Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
- Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa...
- Eu sou responsável pela minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar. "
( Principezinho- A.Saint-Exuperí")

E há rosas que morrem a cada segundo que passa e renascem noutro jardim, levadas pelo vento, pela incerteza...enfim pela saudade...

Pandora

quinta-feira, outubro 26, 2006

Crónicas de um Outubro Azul


Há um som estranho que navega na escuridão de um sentir...
Há de facto uma voz que se quer perder, que se imaginou, que se pretendeu lutar, que se repudiou mas que se alimentou com hortelã verde...
Há um passo ao som da música enebriada por uma rajada de vento seco em noites de tempestades...uma bolota que cai numa hora que se perdeu...
Há ainda um espaço vazio num livro lido milhares de vezes...
Há uma carta perdida que me espera na caixa do correio, está velha, sim.
Há como não podia deixar de ser uma serie de perguntas que nunca se fazem, que se perdem na cobardia de mais um dia estranho...
Há um suspiro nostálgico com cheiro a marrocos...com cheiro a praia, com cheiro a rio para guardar e um dia contar aos netos...
Há um amontoado de ideias guardadas na gaveta, há fotos em que a luz começa a ficar amarela...
Há um jardim adormecido do outro lado do rio, um gelado que derrete, um barco solitario...
Há infelizmente noites em que as estrelas morrem...as janelas fecham-se, as portas lacram-se...
Mas o importante é que "Há" não passa de uma forma verbal no tempo errado alimentada por pequenos fragmentos de sorrisos e abraços, que ao fim e ao cabo só os amigos sabem fazer...
Esses humanos com mentes brilhantes que não nos desamparam, não nos desiludem, não nos fazem acreditar no que nunca existiu e acima de tudo nos suportam em qualquer noite de tempestades.
Ela vive sem bolotas, sem bacardi com hortelã, sem cheiro a praia e a rio, sem fotos a preto e branco, sem cartas, sem gelado,sem tudo enfim que durante minutos de crueldade pensou ser a sua história, a sua "love song", o seu poema perdido...
Adormeceu em luas de prata, em nuvens de cetim,talvez não, talvez sim...e...se houver ainda um sorriso guardado...solta-o com sinceridade, não digas a ninguém"deixa-te ir"se não souberes o que te espera, e quando acordares veste uma cor que tenha a ver com o teu estado de espirito, só assim os outros saberão como te sentes...
Há ainda muito para soltar num tom de voz arrepiante rasgado por um Outubro Azul e ela ali permanece a pensar no que há ainda nas suas mãos, o que resta dos seus pés, o que resta de si...de nada...de longe...de perto...de infinito...de estranho...de nada de concreto...
Há ainda o sonho que nos leva pela vida...

Uma nota numa hora morta

Pandora

segunda-feira, outubro 23, 2006

Quando a música é uma memória temporal...

We'll do it all
Everything
On our own
We don't need
Anything
Or anyone
If I lay here
If I just lay here
Would you lay with me and just forget the world?
I don't quite know
How to say
How I feel
Those three words
Are said too much
They're not enough
If I lay here
If I just lay here
Would you lay with me and just forget the world?
Forget what we're told
Before we get too old
Show me a garden that's bursting into life
Let's waste time
Chasing cars
Around our heads
I need your grace
To remind me
To find my own
If I lay here
If I just lay here
Would you lay with me and just forget the world?
Forget what we're told
Before we get too old
Show me a garden that's bursting into life
All that I am
All that I ever was
Is here in your perfect eyes, they're all I can see
I don't know where
Confused about how it's wrong
Just know that these things will never change for us
at all
If I lay here
If I just lay here
Would you lay with me and just forget the world?

http://www.youtube.com/watch?v=8fq55sijxsg
( Snow Patrol-Chasing Cars)

sexta-feira, outubro 20, 2006

Smile


“E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos e por vezes

Encontramos de nós em poucos meses
O que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes

Ao tomarmos o gosto aos oceanos
Só o sarro das noites não dos meses
Lá no fundo dos copos encontramos

E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
Num segundo se envolam tantos anos.”

-David mourão ferreira-

Pandora

Este post é dedicado à "menina dos caracois de oiro":o)

sábado, outubro 07, 2006

Amanhecer sem ver o chão, andar sem ter caminho, nadar sem mar, flutuar sem ar,crescer sem poder, andar e andar sem sombra, sem olhar...
Encontrar um sonho, romper o vazio, saltar com magia, viver a sonhar, sorrir para rir mas sem nunca te deixares ir...

Pandora

domingo, outubro 01, 2006

Escureceu...

Escureceu e fez-se luz do outro lado da noite...luz, cor, vento, medo,calma, frio... Deixa passar, deixa escurecer a luz, deixa sentir o vento, deixa abraçar o mundo, deixa sorrir a vida,deixa falar o que se silenciou,deixa sentir o que nunca se teve, deixa o tempo passar mas deixa-me ficar neste lado da noite onde me senti amanhecer como se nunca tivesse vivido....

Pandora