O que nos pede ele primeiro? Uma liberdade azul ascendente...um raio de luz ofuscante...uma raiva dilacerada comovida pela saudade...uma história comprida que se arrasta em folhas de papel...Um piano sozinho que canta melodias com dedos de pó que alguém se esqueceu...Onde vai às vezes? É esperar senti-lo fugir das mãos, é calar, é esperar e esperar...quem disse que as esperas são inuteis? Sento-me no chão...sinto a chuva deslizar nas costas...gota a gota...de frio a gelo vai passando...vai mordendo a alma...vai gastando...o que atravessa em chama? o que desce em calafrio? O que estagna no tempo? O que solta o vento numa rajada sibilante? De que fugimos nós a passos morosos? Passa lentamente por mim...suspira e absorve cada travo de um sentir estranho...em que barcos parte a saudade? em que navios chega a lividez das pequenas inquietudes? Um mar agitado, ofegante...um rebelde turbilhão em calmaria...uma tempestade de flores...uma luzerna invadida de medo...um clarão de certezas perdidas na voz...um grito vertiginoso na alma da felicidade...Uma pedra gasta amolecida pelos olhares...Um jardim submerso de nevoeiro onde crescem pequenos botões de luz...palavras....música...cansaço...sabor a novidade...O que se arrasta primeiro? Talvez as mãos...depois os pés...os olhos rasgados pela afabilidade do que enfim adoramos...Pela certeza da cor das àrvores, do verde esmeralda que se passeia junto ao rio...do som das estrelas...E então respiro...sinto o tempo navegar...e só então eu sei o que ele nos pede primeiro...
Pandora