sexta-feira, agosto 22, 2008

Sopro

Solta-me por um instante...Vou escorregar pelos sentidos àsperos do tempo...Vou construir um castelo de memórias...Vou escrever às estrelas...Solta-me devagar...primeiro os braços num levitar deprimente...depois os pés como quem corre desesperadamente...Solta-me nas cores da sombra...Dos olhares inquietantes...dos sentidos nervosos...das revivências inesperadas...das esperas inuteis e essas são tantas...Desespera nos anos que perdeste e leva-os a uma margem... Repensa as horas...Compra um mapa...Viaja...Quanto tempo? O tempo suficiente para guardares o futuro numa cidade escondida...Vamos ser o vento por um dia...Crescer em tapetes verdejantes...Desabrochar como girassois...Vamos viver os minutos...esses restos de tempo tão inuteis como o ar...Vamos parar um segundo...Solta-me como quem solta um balão...num gesto mimado, feliz...Solta-me da prisão do coração...Solta-me da memória vã dos olhos escurecidos pela mágoa da saudade...Solta-me...Solta-me num insolente sorriso da crueldade...como quem permanece ileso...como quem nasce numa nuvem numa noite de tempestade...

Uma nota numa hora morta

Pandora