"Grito Silencioso"

Deixem-me gritar...
Gritar silenciosamente para não acordar o mundo...
Deixem-me expulsar da alma toda esta raiva dilacerada...
Deixem-me rebentar todas as cordas de uma melodia tensa de uma noite de sexta feira...
Deixem-me correr descalça entre os matagais do tempo...
Deixem-me escrever até a minha alma se queixar do sofrimento que é ter inspiração...
Deixem-me fugir do tempo, essas areias movediças que nos afundam...
Deixem-me ficar sem ar, respirar profundamente...
Deixem-me rir alto, chorar baixinho se essa for a minha vontade...
Deixem-me lavar a alma de saudade, de contos de fada, de tristeza,enfim o que eu quiser.
Deixem-me contar histórias absurdas em tempos de solidão...
Deixem-me crescer nos braços da essência da eterna juventude...
Deixem-me sentir que sou um mar imenso, nem que seja por um dia...
Deixem-me falar quando o silêncio me corrói as veias...
Deixem-me divagar sempre que a razão me alucina...
Deixem-me pintar um quadro, mesmo que não tenha noção de cor e profundidade...
Deixem-me estar...
Deixem-me a paz nesta hora que passa...
Quero só um papel vazio, uma caneta gasta, uma mente em tempestade, uma luz fraca e um relógio sem pilha...
Quero só este momento nas minhas mãos...
Deixem-me estar enquanto divago no silêncio da minha clausura...
Silêncio... São só palavras que escorregem numa tela que se chama vida.

Uma nota numa hora morta

Pandora