Loja Nº 15

Posso me sentar? Como num monólogo não há respostas vou deduzir que sim... Sento-me num muro verde que mora num tapete de girassois vermelhos, abro um livro escrito em branco e deixo o mundo entrar lentamente, absorvo os olhares de quem passa e com cada cor faço o meu arco-iris de papel...solto ao vento..um vento branco robusto que me protege como se eu fosse filha do mar... Corro de costas viradas sem medo de cair porque sei que tenho 2 braços que me seguram... Não estou bem sentada ainda, sinto falta do algodão doce amarelado, das estrelas azuis, das cores, das tricolores, dos fios de areia em rodopio quando o mar se agita e a noite acorda para a noite... Levanto-me e volto a sentar-me, tinha um duende a pisar-me o dedo do pé e a perguntar para que lado fica a loja dos sonhos... Respondi-lhe que seguisse a estrada da felicidade, virasse na esquina, continuasse na Rua dos desejos e que na Loja nº 15 tem todos os sonhos que ele quiser encontrar. Não é um caminho fácil, vai sentir medo, saudade, incerteza mas se for bravio estou certa que a vai encontrar...Na verdade a Loja dos Sonhos não é a loja nº 15... Lembro-me da primeira vez que vi a Loja dos Sonhos, no vidro dizia" Não entres se tiveres medo do que vais encontrar", as letras eram verdes e roxas e cheiravam a medo...Não entrei... Voltei lá 6 anos depois...Já tinham mudado a frase...As letras já nao se vestiam de roxo mas continuavam com tons de verde, a porta era uma maça trincada e branca, era guardada por fadas vestidas de rosa com coroas de flores na cabeça e a frase dizia: "Nos sonhos só não vive quem nunca foi intensamente feliz"... Olhei para mim pelo reflexo do vidro...tava vestida com um vestido cor-de-rosa cheio de flores,olhei para dentro e preferi não entrar, nao queria acreditar que nunca tinha sido intensamente feliz...Um mês depois passei na Loja...era inverno... o branco caí nas folhas de jasmim que cobriam as casas...cheirava a frio...mas na loja não se encontravam sonhos...tinha fechado...as letras desapareceram e nem o meu reflexo aparecia no vidro...no momento em que mais me senti forte para entrar um sapo verde com ar desajeitado disse-me que a loja tinha fechado e que nunca devemos esperar demasiado para vencer o que nos assusta...Agradeci ao sapo desajeitado e voltei pelo caminho da saudade... Não quis ver as fadas a escrever os seus poemas nem os duendes nas suas conversas sobre a construção do muro da verdade. Mais uma noite de sol, mais um dia de lua, mais uma estrela que nasce às 6 da manhã mais um pássaro que canta quando a noite se põe.. Um mês depois, quando passava na Rua da Esperança, encontrei uma loja que se chamava a Loja das Realidades... Era colorida...cheirava a menta, hortelã e canela...tinha um tapete de frutos silvestres e na montra um enorme girassol com uma frase que dizia: "Só quem desistiu de viver de sonhos depois de os ter procurado toda a vida, tem direito a ser feliz...Entra e sê intensamente feliz"... Entrei com os pés a tropessarem um no outro, nao me importava saber se iria conseguir andar quando me sentia a voar... Depois de passar a primeira porta, outra porta surgiu...Era a Loja nº 15 onde os chocolates sabem a pimenta, onde a fantasia é um jogo, onde o vermelho ganha asas, onde a alma se toca com as palavras e onde se é intensamente feliz porque o ar cheira a morangos e sabe a cerejas...o tecto é feito de mar e estrelas, onde os deuses te protegem ... Afinal, a loja dos sonhos nunca tinha existido era só uma prova ao nosso medo, uma aventura desenfreada para não se encontrar nada, mas sim perder o que não nos fazia falta...Desde então guardo essa loja no coração...Sorrio cada vez que me lembro dela e lá deixei uma frase: " Podemos ser o que quisermos no país dos sonhos se tivermos alguém que viaje connosco e nos abraçe com amor nas asas da vida...Só assim se é intensamente feliz!" E tu já procuraste a Loja nº 15?

Pandora